Uma reflexão sobre o nosso imediatismo e a louca busca pela perfeição, seja na maternidade, seja na vida.
Enquanto meu filho caçula monta pacientemente vários quebra-cabeças, eu, disfarçadamente, presto atenção nele e me lembro que o ensinei algo que eu mesma desaprendi: o ato de terminar o que comecei.
A correria do dia a dia pesa em nossos ombros e avançamos como loucos, como se tivéssemos presos num looping infinito e deixamos para trás coisas importantes. Andamos tão impacientes que largamos uma meta assim que começamos a tomar as medidas para atingi-la!
A busca pela perfeição é enlouquecedora!
Esses dias, eu desabafava com colegas escritores sobre minha dificuldade em terminar os livros que estou escrevendo. Sim, tenho livros para concluir e histórias para contar, mas sempre estou deixando para lá, nisso o tempo passa e nada do que quis fazer é feito e eu fico angustiada com algo que poderia resolver facilmente, era só ser paciente.
Contudo, pessoas obcecadas com a perfeição não sabem ser pacientes! Que ironia, não?
Além de perceber que existe a possibilidade de ter TPOC (Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva), percebi que desperdicei boa parte de minha vida buscando a perfeição. É algo que não dá para mudar de uma hora para outra, mas pensar que estava perdendo tempo buscando algo que eu nunca poderia alcançar me deixou triste. Triste porque não sabia disso antes e porque na minha cabeça perfeccionista tenho que saber de tudo, o tempo todo!
E agora, vendo meu filho de sete anos montar seus quebra-cabeças com desenhos variados, penso que dei bons ensinamentos a ele sobre paciência e perseverança, no entanto, ainda não consigo seguir meus próprios conselhos.
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Isto me faz pensar em como deve ter tantas mães por aí, tristes, porque simplesmente não conseguem superar as expectativas que elas mesmas têm sobre si e diariamente se veem falhar miseravelmente em coisas mínimas.
A essa altura da minha vida cheguei as conclusões de que às vezes precisamos nos conformar com certas situações: não somos perfeitos, porém, podemos buscar no aperfeiçoar como pessoas gradualmente em qualquer área das nossas vidas.
Talvez ainda lutemos algum tempo com a procrastinação, contudo, por que não sentir prazer com as pequenas coisas que conseguimos concluir? Pouco a pouco, criaremos o hábito de terminar o que começamos e então chegará um momento em que saberemos exatamente o que pode ser deixado para depois, ou não!
Meu pequeno desistiu dos quebra-cabeças e foi brincar com as irmãs e com seus carrinhos, e eu já terminei aquele conto de vinte páginas, e já estou concluindo outro.
E tudo bem, tudo no seu tempo!
Quem sabe o problema não seja necessariamente a procrastinação, mas sim o desejo de sermos perfeitos e então caímos na armadilha de nos culpar por algo que jamais seremos.
A vida é para ser vivida, porém, nenhum de nós saberá vivê-la enquanto não aceitarmos a grande verdade que nos assombra: jamais seremos perfeitos, e tudo bem!
Imagem de capa: Canva
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