Transição de alimentos: como oferecer alimentos que as crianças não gostam 

Saiba como a estratégia de Transição de Alimentos, conhecida como Food Chaining, pode ampliar o repertório alimentar das crianças.

A Transição de Alimentos pode ser feita para introduzir alguns alimentos não favoritos para crianças não seletivas, ou para tratar de maneira gradual a seletividade

Mas antes de abordar e explicar sobre o Food Chaining, é importante ressaltar que não devemos rotular a criança como seletiva sem a devida avaliação de profissionais de saúde especializados.

Alertas sobre a Transição de alimentos

O que é Food Chaining?

Comer não é só colocar comida na frente da criança e esperar que ela coma. É um processo que envolve coisas como tatear, sentir o cheiro e o gosto, e estar em um lugar onde ela se sinta bem.

Tudo isso precisa estar alinhado para que a criança dê a primeira mordida.

Quais são as etapas no ato de comer?

Etapas no ato de comer da criança

Imagine que cada etapa dessas é um degrauzinho até chegar ao objetivo final. 

Apesar de parecer pouca coisa, passar de tolerar um alimento no prato para interagir com ele é uma grande conquista!

Por isso é importante que pais e profissionais de saúde reconheçam cada pequena vitória e os progressos nessa aprendizagem.

Uma maneira de ajudar a criança a avançar nas “etapas” da alimentação é através da estratégia de Transição de Alimentos, originalmente chamada de “Food Chaining”, um termo cunhado por Fraker, Walbert e Cox (2004). 

Fazendo a Transição de Alimentos (Food Chaining), você adiciona mais opções a partir dos alimentos que a criança já ama, até chegar a alguns alimentos-alvo que você gostaria que ela aprendesse a comer.

De acordo com uma pesquisa realizada por uma equipe multidisciplinar de alimentação, que incluiu um nutricionista, um gastroenterologista pediátrico, um fonoaudiólogo (terapeuta de alimentação) e um psicólogo comportamental, essa estratégia mostrou ser eficaz na ampliação do repertório alimentar.2,3

Mudanças que você pode fazer na Transição de Alimentos

Mudanças na Transição de Alimentos

Quando você oferece um alimento novo ou desprezado junto com alimentos que a criança está familiarizada, maior é a probabilidade de ela experimentar.

Ao acumular experiências positivas na hora de comer (sempre com muita paciência), você pode ajudar a aumentar a aceitação da criança em relação a novos sabores, texturas, temperaturas, cores e alimentos. Essa estratégia pode ser eficaz até mesmo com adultos seletivos.

A estratégia da Transição de Alimentos é um processo que inclui algumas etapas para aumentar a variedade na dieta da criança e diminuir comportamentos indesejados durante as refeições (choro, recusa de comida, etc).

É importante lembrar que a evolução, a quantidade de etapas e o tempo que o processo vai levar serão diferentes para cada criança:

As crianças super seletivas, especialmente quando há outros fatores ou condições associados à seletividade, precisam de mais etapas do que crianças que estão apenas passando por uma fase de recusa. 

Tipos de Transição de alimentos

Existem várias maneiras de fazer a Transição de Alimentos. Você pode usar uma só técnica ou uma combinação delas para conseguir que a criança aceite novos alimentos.

Imagens de tipos 

Para saber como iniciar a transição de alimentos da melhor forma, ver exemplos práticos e dicas pontuais que vão te guiar durante todo esse processo, consulte o guia “Transição de Alimentos” no aplicativo Garfinho, clique aqui para baixar e testar por 14 dias gratuitos.

Dica de ouro: Quanto maior o desafio, menor deve ser a pressa

Se for oferecer um alimento que você acha que não tem muita chance de ser consumido, deixe para iniciar isso num dia em que você tenha mais tempo/energia para lidar com possíveis comportamentos de resistência (por exemplo, fins de semana, dias de saída antecipada na escola, etc.).

Mas lembre-se que quando começar, é importante manter constância. Os resultados podem demorar a aparecer.

Lidar com a seletividade alimentar pode exigir uma grande quantidade de dedicação e ainda mais paciência. No entanto, pode ser fundamental para construir um relacionamento positivo com a comida e a alimentação, o que potencialmente oferecerá muitos benefícios a longo prazo.

Se você está dedicando tempo para aprender sobre isso, significa que você está no caminho certo para ajudar o seu pequeno neste processo. Vai valer a pena ter se dedicado tanto. Você é incrível! 

Referências

1. GAHAGAN, S. (2013). The Development of Eating Behavior – Biology and Context. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3426439/>. Acesso em: outubro de 2022.

2. FISHBEIN, M.; COX, S.; SWEENEY, C.; MOGREN, C.; WALBERT, L.; FRAKER, C. Food Chaining: a Systematic Approach for the Treatment of Children with Feeding Aversion. Nutr Clin Pract, v. 21, n. 2, p. 182-184, abr. 2006. DOI: 10.1177/0115426506021002182. PMID: 16556929.

3. FRAKER, C.; FISHBEIN, M.; COX, S.; WALBERT, L. Food chaining: The Proven 6-Step Plan to Stop Picky Eating, Solve Feeding Problems, and Expand Your Child’s Diet. Da Capo/Life Long, 2007.

4. PIAZZA, C. C.; PATEL, M. R.; SANTANA, C. M.; GOH, H.-L.; DELIA, M. D.; LANCASTER, B. M. An Evaluation of Simultaneous and Sequential Presentation of Preferred and Nonpreferred Food to Treat Food Selectivity. Journal of Applied Behavior Analysis, v. 35, n. 3, p. 259–270, 2002. Disponível em: <https://doi.org/10.1901/jaba.2002.35-259>. 

5. SHORE BA; BABBITT RL; WILLIAMS KE; COE DA; SNYDER A.(1998). Use of Texture Fading in the Treatment of Food Selectivity. J Appl Behav Anal., v. 31, n. 4, p. 621-633. DOI: 10.1901/jaba.1998.31-621. PMID: 9891398; PMCID: PMC1284152.

6. HARRIS, G.; COULTHARD, H.. Early Eating Behaviors and Food Acceptance Revisited: Breastfeeding and Introduction of Complementary Foods as Predictive of Food Acceptance. Current Obesity Reports, v. 5, n. 1, p. 113–120, 2016. Disponível em: <https://doi.org/10.1007/s13679-016-0202-2>.

7.CATON S.J., AHERN S.M., REMY E., NICKLAUS S., BLUNDELL P., HETHERINGTON M.M.. Repetition Counts: Repeated Exposure Increases Intake of a Novel Vegetable in UK Pre-School Children Compared to Flavour-Flavour and Flavour-Nutrient Learning.British Journal of Nutrition , v109,p2089–2097 (2013).

8.FERNAND J.K., PENROD B., FU S.B., WHELAN C.M., MEDVED S.. The effects of choice between non-preferred foods on the food consumption of individuals with food selectivity.Behavioral Interventions,v31,n1,p87–101 (2015). Disponível em:<https://doi.org/10 .1002/bin .142>.

Jessica Sanguedo | Nutricionista

Sou nutricionista (CRN4 - 20102053), internacionalista e mãe de um bebê que é meu maior caso de sucesso com BLW! Também sou pós-graduada em nutrição clínica pela UFRJ, com cursos de seletividade alimentar e nutrição infantil. Realmente acredito que a nutrição muda vidas!

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