Como identificar uma reação alérgica durante a introdução alimentar?

Saiba como identificar uma reação alérgica durante a introdução alimentar do seu bebê. Sintomas, cuidados e quando buscar ajuda médica.

O período da introdução alimentar é bastante aguardado, cheio de descobertas e conquistas. Porém, também traz com ele muitos desafios e um deles é o medo de que o bebê apresente alergia a algum alimento.

Felizmente, as reações alérgicas a alimentos vão ocorrer em uma minoria dos bebês (aproximadamente 6% das crianças menores de 3 anos apresentam alguma alergia alimentar).

Como se trata de uma reação imprevisível, vale a pena ter alguns esclarecimentos que vão trazer mais segurança e tranquilidade para esse momento tão importante da introdução alimentar.

Como identificar uma reação alérgica

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1. Alergia alimentar IgE mediada

É a forma mais comum de alergia alimentar que ocorre no período da introdução alimentar. Esse termo é usado porque a reação alérgica ocorre principalmente em função de um anticorpo chamado IgE, que reconhece determinado alimento e deflagra toda resposta imunológica alérgica.

Nessa forma de alergia IgE mediada, os sintomas ocorrem imediatamente após a ingestão do alimento (durante a refeição, ou minutos após até no máximo 2 horas depois). E esses sintomas podem ser variados, acometendo diferentes órgãos e sistemas, principalmente:

  • Pele: é o órgão mais comumente acometido. Pode ocorrer vermelhidão, coceira, “bolinhas”, placas, inchaço nas pálpebras, lábios etc.
  • Sistema respiratório: espirros, coriza, tosse, chiado no peito, falta de ar, rouquidão repentina.
  • Sistema gastrointestinal: vômitos, dor abdominal, diarreia.
  • Sistema cardiovascular: queda de pressão arterial (o bebê fica muito prostrado repentinamente, muito “molinho”), tontura, desmaio.

Esse tipo de alergia pode ocasionar uma reação alérgica potencialmente grave, que é a anafilaxia (quando há acometimento de diferentes sistemas durante a reação).

Alergia alimentar não IgE mediada

É uma forma de alergia alimentar mais comum nos bebês mais novos, ainda em aleitamento materno exclusivo ou em uso de fórmula infantil.

Nessa forma de alergia alimentar, existe uma manifestação que merece atenção durante a introdução alimentar que é chamada FPIES (sigla para Síndrome de Enterocolite Induzida por Proteína Alimentar).

Nesse caso, os sintomas se iniciam algumas horas após a ingestão do alimento. Caracteriza-se pela presença de vômitos sucessivos, em grande quantidade, que ocorrem em geral 1 a 4 horas após a ingestão do alimento. Além dos vômitos, o bebê fica muito prostrado (“caidinho”, “mole”) e pode ficar pálido. Dentro das primeiras 24 horas, pode ainda apresentar diarreia.

A FPIES é um quadro que pode ser grave, pois o bebê pode desidratar e chegar a ter um choque hipovolêmico (queda da pressão arterial por desidratação).

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O que fazer se o bebê apresentar algum sintoma?

Sintomas muito leves (como uma leve vermelhidão na pele, só uma coriza ou um único episódio de vômito), podem ser apenas observados. Se não houver melhora rápida, é preciso ter uma avaliação médica.

Em caso de sintomas mais intensos, como reação mais ampla na pele, sintomas respiratórios proeminentes, vômitos sucessivos ou acometimento de mais de um desses sistemas (Ex: vermelhidão na pele e tosse), o bebê deve ser levado a um serviço de pronto atendimento médico.

O que é muito importante saber: se o bebê tiver qualquer um desses sintomas, por mais leve que seja, vale a pena interromper a oferta daquele alimento e comunicar ao pediatra. 

Isso não quer dizer que qualquer sintoma já será indicativo de alergia alimentar, mas isso deve ser avaliado e orientado pelo médico (seja o pediatra ou um alergista). Em boa parte dos casos de reações alérgicas graves, o bebê já havia apresentado sintomas leves com o alimento antes. Portanto, quanto antes for feito o diagnóstico, melhor.

É preciso fazer algum teste alérgico ou exame para saber se o bebê tem alergia a algum alimento?

Não devem ser realizados exames de alergia ou testes alérgicos de forma “preventiva”, ou seja, antes de se oferecer os alimentos ou antes que o paciente apresente qualquer reação. Por que? Porque esses exames não fornecem o diagnóstico de alergia alimentar, são apenas complementares na investigação. O bebê pode ter um exame positivo e não ter alergia àquele alimento e vice-versa.

Os exames são úteis quando há suspeita de uma alergia alimentar do tipo IgE mediada. Ou seja, quando o bebê já apresentou alguma reação suspeita, os exames podem auxiliar no diagnóstico (e esses exames são: teste cutâneo alérgico de puntura e dosagem de IgE específica no sangue). Em algumas situações, quando há dúvida diagnóstica, pode ser indicado um teste de provocação oral supervisionado (em que se oferece o alimento sob supervisão médica, em um ambiente preparado para atender qualquer possível reação).

Existe uma ideia bastante divulgada de que “não dá pra fazer exames de alergia em bebês, porque vai dar falso negativo”. Na verdade, os exames serão negativos no caso das alergias não IgE mediadas. Na suspeita de alergia alimentar IgE mediada (aquela dos sintomas imediatos à ingestão do alimento), os exames podem e devem ser realizados nos bebês (até pode ocorrer algum falso negativo, mas na maioria das vezes já é possível detectar alguma alteração).

No aplicativo BLW tem uma seção dedicada a reação alérgica durante a introdução alimentar, faça o download aqui e consulte “Como lidar com o risco de alergia”.

Tem mais dúvidas sobre reação alérgica durante a introdução alimentar? Deixe nos comentários!

Leticia Ferreira | Médica Alergista

Sou médica alergista, formada pela USP (Universidade de São Paulo), com título de especialista pela ASBAI. Em minha comunicação com os pacientes, e mesmo com o público em geral, procuro esclarecer dúvidas comuns e trazer mais segurança e tranquilidade nesse universo das alergias.

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