Criança que não come: o que fazer quando a refeição vira um drama

Você tem uma criança que não come? Entenda as causas, saiba como agir e veja dicas para melhorar a alimentação infantil com leveza e confiança.

Ter uma criança que não come é extremamente desafiador, para não dizer: desesperador. Durante um dia habitual temos, no mínimo, 3 a 4 oportunidades de nos alimentar. Em uma semana, são quase 30 momentos para se relacionar com a comida. Agora, imagine essa quantidade de tentativas em uma família com uma criança que recusa os alimentos aceitos por todos os outros membros da casa?

Eu mesma não saberia bem o que fazer, mas uma coisa é certa: faria tudo o que meu filho aceitasse! Principalmente por medo de vê-lo doente, com a saúde comprometida pela falta de nutrientes essenciais que os alimentos fornecem.

Dentro desse desespero, uma prática comum entre as famílias é a oferta de suplementos alimentares e leites fortificados. Embora compreensível, essa solução pode afastar ainda mais a criança que não come dos alimentos sólidos.

Por que meu filho não quer comer?

Como lidar com criança que não quer comer em 8 dicas práticas

Quando uma criança recusa um grupo inteiro de alimentos ou qualquer alimento sólido, é fundamental buscar ajuda profissional. Ela pode até estar nutrida com aquilo que aceita, mas que tipo de relação ela estará construindo com a comida?

Comer é muito mais do que ingerir alimentos. Comer envolve a relação com quem nos alimenta, com o ambiente e, principalmente, com nós mesmos.

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Como Nutricionista Materno Infantil, meu objetivo é ajudar a formar comedores competentes: crianças que se sentem confortáveis ao comer, que escolhem o que desejam de acordo com seus sinais internos de fome, saciedade e apetite.

Nos meus atendimentos, costumo dizer que a criança aprende conforme as oportunidades que recebe. Na alimentação infantil, os adultos cuidadores são os responsáveis por dar essas oportunidades — e não por “fazer a criança comer”, como ainda se acredita.

Na infância, principalmente nos primeiros meses do aprender a comer, a criança tem autonomia para decidir quanto comer e se vai comer. Cabe aos cuidadores entenderem suas capacidades e observar. O desafio é que, ao longo da história, a humanidade teve mais experiências com a escassez do que com a abundância de alimentos. Isso gera uma insegurança natural nos adultos quando a criança não come a quantidade que eles julgam adequada.

Muitas crianças que não comem bem fazem parte de um grupo que foi forçado a ingerir mais do que conseguiam, enfrentaram refeições tensas ou ouviram palavras que diminuíram sua confiança na própria fome e saciedade. Além disso, existem crianças com questões orgânicas, ou seja, condições físicas que dificultam a aceitação alimentar. Tudo isso precisa ser avaliado ao lidar com uma criança que não come.

As competências que devemos estimular em uma criança que não come incluem:

  • Sentir-se bem com a comida;
  • Ter interesse pelos alimentos consumidos pelos cuidadores;
  • Comer o suficiente para crescer de forma saudável;
  • Apreciar as refeições em família.

Essas competências ajudam a criança a consumir uma alimentação variada e com bom equilíbrio nutricional.

O papel dos cuidadores na construção de hábitos alimentares

Se você convive com uma criança que não come ou tem muita dificuldade para comer, meu convite é: não espere passar sozinho. Busque ajuda profissional e observe como você está assumindo suas responsabilidades na alimentação do seu filho. Confie na capacidade dele de assumir as que são dele.

Desde a amamentação exclusiva, o bebê já é capaz de definir quanto vai comer. Essa responsabilidade nunca foi dos cuidadores. A diferença é que, nessa fase, ele também escolhe quando comer.

Já os cuidadores são responsáveis pelo o quê é oferecido, desde sempre. A partir dos 12 anos, também devem ensinar sobre equilíbrio alimentar, planejamento e preparo das refeições.

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Desde a fase pré-escolar, cabe aos adultos organizarem os horários das refeições e garantirem um local adequado e prazeroso para comer.

Por fim, observe também se, ao longo da semana, você tem oferecido toda a variedade de alimentos que a criança aceita, mesmo que essa variedade ainda seja limitada. Muitas vezes, a criança que não come tem uma aceitação maior do que a rotina permite explorar. E lembre-se: a exposição frequente é um dos caminhos mais eficazes para aprender a comer.

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Giselle Gattai | Nutricionista

Sou Nutricionista com Especialização em Nutrição Clínica em Pediatria pelo Instituto da Criança - HCFMUSP. Me tornar mãe de duas meninas me transformou e hoje meu propósito é ajudar famílias a melhorarem a forma de se alimentar e a forma de conduzir a alimentação das crianças, contribuindo para a prevenção de doenças relacionadas à má alimentação. Acredito na Nutrição desde o início da vida, Nutrição que vai além dos alimentos que comemos, inclui a forma como comemos, onde nos alimentamos, com quem... Enfim, esse universo que envolve o comportamento alimentar.

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