Como criei um bebê vegetariano

Há quase 8 anos, sou ovolactovegetariana. Decidi parar de comer carne por amor aos animais. Na época estudei bastante sobre assunto. Hoje, claro, continuo estudando, ampliando meu conhecimento na área e estendi esse meu valor de vida para meu filho. Guga, de 2 anos, não consome nenhum tipo de carne – desde a barriga da mamãe. E aqui vou contar como criei um bebê vegetariano.

Sou autora do livro Por que sou vegetariano, mamãe? Nele, o personagem principal, Vegguinho, indaga a sua mãe porque ele não come carne e os seus amiguinhos sim. “Quem está errado nessa história?”. A mãe explica que não existe lado errado, fala sobre hábitos e cultura; e, claro, de maneira gentil e lúdica, conta de onde vem a carne, o que é o hambúrguer, o frango, o bacon e o sushi.

Escrevi esse livro para explicar para meu filho sobre essas questões, pois é comum que ele tenha curiosidades ao ver outras pessoas ao seu lado se alimentando. Com seus 2 aninhos, ele assimilou completamente o assunto, conhece os animais e está desenvolvendo sua empatia por cada um deles. E eu morro de orgulho e amor de fazer parte disso!

É certo criar um bebê vegetariano?

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Por causa dessa minha escolha de criar um bebê vegetariano em um país cuja cultura é carnívora, sofro indagações e julgamentos, sim. Antes mesmo de engravidar, ouvi amigos dizendo que eu estaria privando meu filho de conhecer os sabores, que eu não tinha esse direito. Minha resposta era (e é) sempre a mesma:

Darei a ele o poder de escolha quando ele quiser – e ele estará sempre munido de informações. Vai saber o que está comendo, sempre, e de onde vem aquela refeição.

Quando eu era criança, ninguém me deu esse poder de escolha. A carne era imposta no prato e eu tinha que comer. Julgava normal consumir animais, até que tive idade para entender e escolher.

Quando somos pequenos, é natural amarmos bichinhos. E se nos for explicado e colocado um vegetal e um animal para comermos (com as devidas explicações), a criança vai escolher o vegetal, simplesmente por não querer machucar aquele bichinho”.

Então, o que fazemos? Mentimos para as crianças. Pouquíssimas entendem o que é a comida que está no prato, por que a comemos e como ela chegou até a mesa? Qual foi o caminho que percorreu até chegar lá? E, para mim, esse é um assunto importantíssimo.

Veja bem, não se trata de converter o mundo ao vegetarianismo. Se trata de dar informações e conhecimento, agir com respeito. Atualmente, não se engana mais bebês e crianças para que consumam vegetais, batendo tudo no liquidificador e servindo uma papa nutritiva, mas com uma textura única e um sabor de tudo misturado, não é mesmo? Pelo contrário, mostramos cada alimento para as crianças para que elas conheçam seus sabores, cheiros e texturas.

Então, por que não ensinar de onde vêm o que chamamos de comida? Não estou dizendo para conversar sobre matadouros com as crianças pequenas; certamente, esse assunto pesado NÃO é para elas. Estou falando para nomear as coisas da maneira correta.

Uma vez Guga viu o primo comendo linguiça e perguntou o que ele estava comendo. Eu falei: “isso é linguiça, filho, é carne de porco. Lembra do porquinho, do livro? A gente não come animalzinho, não é?” Ele concordou, sequer pediu para experimentar e continuou comendo seu brócolis com tahini e pão com hommus (estávamos em um churrasco de amigos libaneses, maravilhoso!). Eu não menti para ele, não escondi o que era a linguiça, lembrei que a gente não come animais e pronto. Seguimos a vida.

É saudável criar um bebê vegetariano?

Crianças (e adultos) vegetarianas são saudáveis, sim. Guga consome proteínas, minerais e vitaminas, tanto quanto outras crianças, só que as dele vêm dos vegetais e não das carnes.

Feijão, grão de bico, lentilha, ervilha, soja (o grão e o tofu), tudo isso é rico em proteínas e tem uma infinidade de formas de preparo. Hamburguinho, bolinho, ao molho, falsa bolonhesa de lentilha, na salada etc. Nos aplicativos BLW Brasil (para bebês de 6 meses a 2 anos) e Garfinho (para crianças de 2 a 7 anos) você encontra várias receitas maravilhosas!

Ele faz suplementações como outras crianças da idade dele, além da vitamina B12, que é recomendada a vegetarianos e veganos (e a algumas pessoas que consomem carne, mas possuem essa vitamina baixa, o que é mais comum do que imaginamos).

Hoje em dia, há muitas informações disponíveis online para quem quer ser vegetariano ou vegano. E ainda fazemos acompanhamento semestral com nossa nutri materno-infantil, que ajusta nossos suplementos, cardápios e dá muitas dicas sobre cada fase que vivemos relacionada a alimentação infantil e seletividade alimentar.

Quais são os seus valores?

Seria hipocrisia da minha parte dar carne ao meu filho. Isso porque isso não faz parte dos MEUS valores de vida. Eu não acredito em um consumo sustentável de animais. Não acredito em morte sem sofrimento (nenhum ser quer morrer para servir de alimento para outro). E, se temos a possibilidade (e a facilidade) de viver sem matar animais, por que eu mataria algum? Por que ensinaria a meu filho algo que não vivencio e sou saudável e feliz sem?

Assim como religião. Você passa certos valores a seu filho, conforme o que vivencia no dia a dia e acredita. Para mim, não teria como ser diferente no quesito alimentação.

E você, vivencia os valores que passa a seu filho? Teria coragem de explicar a verdade sobre as carnes para ele? Voce criaria um bebê vegetariano?

Conta aqui para mim nos comentários!

Ligia Menezes

Lígia Menezes é mãe de um garotinho de 2 anos, jornalista e autora dos livros "Mãe de primeira viagem" e "Por que sou vegetariano, mamãe?"

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