Crianças do espectro autista: dicas de alimentação e bem-estar

Descubra como ajustar a alimentação pode ajudar no desenvolvimento e bem-estar das crianças do espectro autista.

Como mãe, você quer o melhor para o seu filho e sabe como a alimentação pode impactar diretamente o bem-estar dele. No caso de crianças do espectro autista, a relação entre nutrição e qualidade de vida é ainda mais importante.

Entender os fatores que influenciam a saúde dessas crianças é essencial para oferecer conforto e promover o desenvolvimento. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é multifatorial, envolvendo fatores genéticos, epigenéticos e ambientais. E a boa notícia é que, por meio da alimentação, você pode contribuir significativamente para a saúde e o bem-estar do seu filho.

A conexão entre intestino, cérebro e sistema imunológico

Já ouviu falar que o intestino é considerado o “segundo cérebro”? Essa conexão é ainda mais relevante para crianças do espectro autista, pois alterações no sistema intestinal podem impactar diretamente o comportamento, o sono e a saúde emocional delas.

Estudos indicam que até 99% das crianças com TEA apresentam alterações gastrointestinais, sendo a média de 33% (com variações entre 0 e 69%, dependendo do estudo). Isso ajuda a explicar muitos dos desafios que você enfrenta no dia a dia.

Problemas gastrointestinais comuns em crianças do espectro autista

  1. Disbiose e permeabilidade intestinal: Um desequilíbrio na flora intestinal reduz a absorção de nutrientes e aumenta a permeabilidade do intestino, permitindo a entrada de substâncias inflamatórias, como peptídeos e bactérias. Isso pode causar desconfortos como dor abdominal e refluxo, além de dificultar a absorção de nutrientes essenciais.
  2. Deficiências na metilação: Esse processo, fundamental para a regulação genética, pode estar alterado, aumentando inflamações e prejudicando o neurodesenvolvimento.
  3. Seletividade alimentar: Muitas crianças do espectro autista têm uma alimentação restrita, o que reduz a diversidade nutricional e pode levar a deficiências importantes.

Como a alimentação impacta o desenvolvimento

Um intestino saudável produz compostos que ajudam o cérebro a funcionar melhor, como os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC). Porém, em casos de desequilíbrio intestinal, há um aumento nas inflamações, o que prejudica o desenvolvimento cognitivo e emocional.

Um exemplo relevante é o metabolismo do triptofano, um aminoácido essencial que é precursor da serotonina. Em crianças do espectro autista, esse metabolismo pode seguir uma rota pró-inflamatória, diminuindo a produção de serotonina e melatonina. Isso contribui para alterações no comportamento, no sono e na cognição, além de aumentar inflamações crônicas.

O papel do glúten e da caseína

Se o seu filho prefere alimentos como pães, biscoitos ou leite, isso pode ter uma explicação biológica. Crianças do espectro autista tendem a desenvolver uma relação especial com esses alimentos, que liberam substâncias no organismo associadas a sensações de prazer. No entanto, essas mesmas substâncias podem intensificar inflamações e piorar os sintomas.

O que você pode fazer?

  1. Avalie com um profissional: Cada criança é única, e o acompanhamento de um nutricionista especializado é essencial para identificar as necessidades específicas do seu filho.
  2. Considere ajustes na alimentação: A retirada de glúten e caseína pode ser benéfica em alguns casos, mas deve ser feita com orientação profissional para evitar deficiências nutricionais.
  3. Inclua nutrientes essenciais: Invista em uma alimentação rica em vitaminas, minerais e fibras, que ajuda a equilibrar o organismo e apoia o desenvolvimento do seu filho.

Lembre-se: como mãe, você já faz muito pelo seu filho. Compreender como a alimentação pode contribuir para o bem-estar dele é mais um passo importante nessa jornada de amor e cuidado. Com a orientação certa, é possível transformar as refeições em momentos de cura e fortalecimento, ajudando o seu filho a superar desafios e alcançar todo o seu potencial.

Imagem de capa: Canva

Referências

SIQUEIRA, Adriana. Nutrição no Transtorno do Espectro Autista. Aula disponível na Plataforma Multiplicar de Nutrição Infantil. [S.l.]: Multiplicar, [s.d.].

Giselle Gattai | Nutricionista

Sou Nutricionista com Especialização em Nutrição Clínica em Pediatria pelo Instituto da Criança - HCFMUSP. Me tornar mãe de duas meninas me transformou e hoje meu propósito é ajudar famílias a melhorarem a forma de se alimentar e a forma de conduzir a alimentação das crianças, contribuindo para a prevenção de doenças relacionadas à má alimentação. Acredito na Nutrição desde o início da vida, Nutrição que vai além dos alimentos que comemos, inclui a forma como comemos, onde nos alimentamos, com quem... Enfim, esse universo que envolve o comportamento alimentar.

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